"Os anos se passaram enquanto eu dormia"
- Daiane Gasparino
- 31 de jul. de 2024
- 2 min de leitura
Outro dia entrei no carro e o relógio do painel estava desatualizado. Marcava 00:00 de 4 de janeiro de 2000. No mesmo instante, falei: "Quem eu era em 4 de janeiro de 2000?"
Não tinha nem 9 anos ainda, estava de férias da escola, provavelmente em Indaiatuba (na casa da minha avó materna com os meus irmãos) ou em Ipanema (com a minha avó paterna e todos os meus parentes por parte de pai), logo começaria a 3a série do Ensino Fundamental...
E aí um pensamento atravessou todos os outros: não tinha perdido ninguém importante ainda. Tinha a vó Divina, tinha a tia Yolanda, tinha meu avô, o Aurimar e meu pai. A minha história ainda estava sendo contada com a presença desses personagens tão importantes pra mim. E eu não tinha noção nenhuma do que era viver sem algum deles.
Curiosamente, a tristeza não veio. O vazio e a dor do luto também não. No lugar desses sentimentos, minha cabeça logo pensou: "Caraca! Tô tão mais perto dos 40 anos, do que desses meus quase 9...".
Aí me fiz mais uma pergunta: quando foi que passou e eu não vi? Não senti esse tempo todo passando. "Os anos se passaram enquanto eu dormia", já diziam Nando Reis e Arnaldo Antunes. E senti que tinha sido bem isso mesmo...
Uma Daiane cresceu durante esses anos, algumas vezes eu percebia, mas nem sempre. Aquele colorido da infância foi ficando para trás, conforme morria alguém da minha família. Não tinha mais a minha avó e a tia Yolanda, que são até hoje mega especiais para mim. Têm dedinhos das duas na minha identidade.
A adolescência chegou (que fase chatinha, hein?!), mas passou também. Graças a Deus! Os 20 chegaram e pareciam que nunca iriam embora. Tudo era novidade, legal, divertido, sem dores e com pouquíssimo sono. Nesta época, perdi meu avô. Travei. Aos poucos, fui voltando a viver os meus 20 e poucos...
Fiz faculdade, me formei. Conheci o amor da minha vidinha, casei com ele. Fomos morar em outro estado (sozinhos, com uma mão na frente e outra atrás), conquistamos algumas coisas e voltamos para perto das nossas famílias. Logo em seguida, meu tio descansou. Um ano depois, meu pai. Os meus 20 e poucos estavam se despedindo de mim sem muitas cores; bem cinzento, na verdade.
Cheguei aos 30 no meio de uma pandemia. E foi aí que não vi mais nada acontecer mesmo! Passamos dois anos presos em casa, conversando por chamadas de vídeo, e quando encontrávamos alguém era sempre com máscaras. Bizarro! Nem meus avós, que já se foram, nem meu pai imaginariam essa realidade...
Hoje, com meus 33 anos, o mundo já sai de casa novamente. Estamos no meio de uma Olimpíadas, em Paris esse ano. A realidade já beira mais ao "normal". Não ao normal que eu idealizo, mas isso já é conversa para outro texto, quem sabe?!
Enfim, com o fim desse texto, percebo, mais uma vez, que os anos 2000 estão lááá atrás... Há mais de 20 anos. Credo! E os meus 30+ já é realidade real oficial. Quase dando espaço pros 40... :O
Pronto, quem eu serei aos 40 e poucos? O.o
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