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Tatuagem, a arte que te acompanha

  • Foto do escritor: Daiane Gasparino
    Daiane Gasparino
  • 14 de out. de 2014
  • 4 min de leitura

Desenhos, frases, histórias, tudo marcado pelo barulhinho do motor que existe há milênios


A tatuagem surgiu há mais de cinco mil anos atrás. Alguns acreditam que tenha sido nas civilizações pré-colombianas por conta de relatos de múmias tatuadas nesse período. Conta-se que no Egito, tatuar tinha um significado religioso. Foram encontradas múmias com marcas pelo corpo inteiro e, a da sacerdotisa Amunet é citada como a mais importante de todas por possuir pernas, colo e braços tatuados com símbolos de fertilidade.

Outros já afirmam que foi encontrada uma múmia congelada do caçador Otzi, o homem do gelo, da Idade do Bronze em 1991, também com mais ou menos cinco mil anos, entre a Itália e a Áustria. Pesquisadores acreditam ser esse o corpo mais antigo tatuado do mundo inteiro. Quando encontraram a múmia, por estar tão bem conservada, pode se contar 57 tatuagens ao todo no corpo.

Há uma tribo na Austrália até hoje chamada Maori. Relatos afirmam que a tatuagem teve seu nome ligado diretamente ao som dos instrumentos que os ‘maoris’ usavam. De princípio, a arte era chamada de "tatau". Tempos mais tarde, o termo foi mudado por colonizadores e até hoje usamos a expressão "tatto".

A tatuagem foi se expandindo com os anos, e aos poucos, o ser humano foi aprendendo a ter gosto pela arte de pintar o corpo. Ainda hoje, existe preconceito. Seja na hora de procurar uma vaga de trabalho, seja o desenho escolhido ou o excesso deles no corpo. Mas é visível que está bem menor. Há quem acredite que a evolução humana, tecnologia, internet e redes sociais têm influenciado nessa mudança de opinião.


E para nos mostrar esse outro lado da história, o lado de quem vive por conta delas, conversamos com o tatuador Felipe Ponchio, 29 anos.

A seguir, trechos da entrevista concedida em seu estúdio no Bairro Barcelona, em SCS, enquanto o barulhinho do equipamento ficava como plano de fundo e mais um trabalho era feito.


O lado tatuador

Felipinho, como é conhecido, conta que sempre gostou de desenhar e que pensava em trabalhar com HQ (histórias em quadrinhos), mas desistiu por ser uma área que não dá muito dinheiro e por ser também, atualmente, mais trabalhada com desenhos computadorizados, o que não o atrai muito. Na época de colégio, um grupo de amigos apresentou como atividade curricular um trabalho sobre tatuagem. “Percebi o quanto o Felipinho se encantou com esse mundo quando os apresentamos”, nos conta Gabriel Fernandes, um dos amigos do colégio. E foi aí que o interesse por esse mundo começou.

Com 17 anos, começou a aprender a tatuar no estúdio do amigo Carlão. “Quando se tem talento, é preciso um pouco de oportunidade. Daí as coisas fluem e ambos os lados ganham. Ganhei mais visibilidade com o talento do Felipe.” Foram dois anos só olhando, aprendendo as técnicas como qual tinta é boa, o barulho do aparelho, entre outras. Aos 19 anos, montou uma salinha em casa e começou a tatuar os amigos.

Sobre as especializações, Felipinho conta que é “algo mais pessoal. Cada um se especializa em uma ou mais das várias subdivisões de desenhos, aquele que a pessoa se identifica mais. E por ser um mercado novo, sempre tem novidades. Porém, ainda não há nada reconhecido pelo MEC.”

O tatuador nos conta que as dificuldades existem como em qualquer comércio. “Corre o risco de depender da época do ano. Há períodos em que se faz 3, 4 tatuagens por dia. Mas se você tem clientela consegue se manter.”


O outro lado. O lado (todo) tatuado

“Meu pai não deixava eu me tatuar porque eu era muito novo. Então completei 18 anos e no dia seguinte, com o dinheiro da carta de motorista que ele me deu, fiz a minha primeira tatuagem. É o desenho de um gato com uma serpente na panturrilha.” Hoje, não faria mais o mesmo desenho, não é algo que se arrependa, mas já não tem o mesmo significado da época.

Ao todo, são 33 tatuagens espalhadas pelo corpo. No pescoço pode se notar dois desenhos, uma rosa ao lado direito com o nome da avó, carinhosamente chamada de Zinha e, ao lado esquerdo, uma navalha com o nome do avô, o saudoso senhor Salvador, ou mais conhecido como Sarva. É uma singela homenagem aos avós maternos, ela que vendia flores artificiais e ele que tinha algumas navalhas para barbear-se, que era costume dos mais velhos. E é claro, essa é uma das favoritas dele. A outra é, segundo Felipinho, uma homenagem ao grande amor da sua vida, aquela que nunca o abandona. O copo de cerveja no antibraço esquerdo. “O legal da tatuagem é a exclusividade! Você curte o ‘trampo’ de um cara e faz. Não um desenho de catálogo que a maioria pode ter.”

Perguntado se pensa em fazer mais algum desenho, Felipinho diz que quer fechar o braço, pois gosta muito de se tatuar, (não ele próprio, um outro alguém faz o serviço) mas o que o impede de fazer com mais frequência é a dor. “É viciante a tatuagem, quanto mais se tem, mais se quer. Mas a dor, essa não é nem um pouco viciante.”

Entre as mais recentes no seu corpo estão as letras ZERO ONZE pelos dedos das mãos em homenagem ao prefixo de São Paulo e a mini âncora que fez perto do olho esquerdo.

Ao olhar para o rapaz com a barbicha ruiva, você se perde em tantos detalhes causados pelos desenhos, pelas histórias que o acompanham desde sempre e que ele faz questão de marcar no corpo. A paixão é vista nos olhos. Eles que brilham cada vez que chega um cliente e Felipinho pode fazer o que mais gosta que é desenhar. E de quebra, colorir a vida de muitas pessoas.






 
 
 

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